FUNCIONALISMO PÚBLICO
Barnabé, o
funcionário.
José Geraldo
Vinci de Moraes é professor do Departamento de História da FFLCH-USP e
pesquisador musical.
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https://jornal.usp.br/?p=81550
28/04/2017 -
Publicado há 5 anos Atualizado:
02/05/2017 as 16:53
José Geraldo Vinci de Moraes – Foto:
Reprodução/TV USP via Youtube
Certas questões
e temas rondam a sociedade brasileira de maneira recorrente, sobretudo aqueles
relativos à sua modernização. Provavelmente porque resistem em se instalar de
maneira definitiva, estão sempre na ordem do dia. Os debates atuais em torno da
reforma trabalhista e da previdência despertaram alguns deles, como o da
dualidade de regime de trabalho existente no País.
Criada durante o governo de Getúlio
Vargas, ela estabeleceu diferenças entre o sistema regrado pela CLT e o do
estatuto do funcionário público (1939). A força da diferenciação criou duas
maneiras de encarar e exercer o mundo do trabalho, de tal maneira que, já na
década de 1940, o “servidor” ganhou uma distinção oblíqua por meio de um
apelido, aliás outra prática rotineira de nossa sociedade fundada nas relações
afetivas e de pessoalidade.
Chamado de Barnabé, rapidamente o título
tornou-se sinônimo de funcionário público, principalmente daquele servidor mais
humilde, de vida apertada, “que ganha só o necessário pro cigarro e pro café”.
Curiosa foi a maneira para a criação e consagração do apelido: uma marchinha
carnavalesca composta em 1948 por Haroldo Barbosa (1915-1979) e Antonio de
Almeida (1911-1985).
Na verdade, a canção foi criada um ano
antes para um número musical para ser cantada por Grande Otelo em uma revista
no Cassino da Urca. Tradicionalmente o Teatro de Revista, como sugere o nome,
tratava das questões do dia a dia que ganhavam algum destaque. A motivação
circunstancial neste caso foi a campanha dos servidores para a melhoria de seus
salários, aparentemente já em declínio. O grande nó para os criativos
compositores era como fazer verso com rima fácil combinando com a letra É, classificada como o último estágio da
escala da carreira funcional daspeana (da sigla DASP – Departamento
Administrativo do Serviço Público)! Daí veio o inesperado nome Barnabé, que se
transformou no alegre refrão:
Ai Ai Barnabé
Ai Ai
funcionário letra É
Ai Ai Barnabé
Com o sucesso na casa de espetáculos
carioca, os compositores resolveram adaptar os versos para uma gravação feita
por Emilinha Borba destinada ao carnaval de 1948. A repercussão foi imediata e
ganhou a simpatia das ruas do Rio de Janeiro, capital do país tradicionalmente
repleta de funcionários, que viviam tanto as regalias como as agruras do
funcionalismo. Aliás, ganhar o sufixo ismo significava alcançar a lógica de um
sistema fechado, com princípios, conceitos e, finalmente, um modo de vida
próprio. A vida peculiar do Barnabé se estabeleceu e se tornou marca
identitária e simbólica, permanecendo em nosso imaginário até hoje.
No caso específico da marchinha, a letra
tratava com bom humor as dificuldades e embaraços do pequeno funcionário
público em contraste também com o operário. O Barnabé é aquele que mal começa o
mês e já está endividado, tendo que recorrer à sorte no jogo do bicho ou aos
empréstimos, descontados do salário. Para penetrar de fato no sentido da
canção, a letra – logo a seguir – deve ser acompanhada pela escuta integral da
canção (https://www.youtube.com/watch?v=HhswV1Ks9gE). Deste modo se compreende melhor o humor e os
deslocamentos presentes na composição. Este era um recurso criativo usual dos
compositores de marchinhas: o disparate cômico de tratar com alegria temas
ásperos e adversos.
Barnabé, o
funcionário
Quadro
extranumerário
Ganha só o
necessário
Pro cigarro e
pro café
Quando acaba
seu dinheiro
Sempre apela
pro bicheiro
Pega o grupo do
carneiro
Já desfaz do
jacaré
O dinheiro
adiantado
Todo mês é
descontado
Vive sempre
pendurado
Não sai desse
tereré
Todo mundo fala
fala
Do salário do
operário
Ninguém lembra
o solitário
Funcionário
Barnabé
Ai Ai Barnabé
Ai Ai
funcionário letra É
Ai Ai Barnabé
Todo mundo anda
de bonde
Só você é que
anda a pé…
Saindo das ruas e do período carnavalesco,
o epíteto ganhou a imprensa carioca, que começou a utilizar o apelido para
identificar o servidor público de “vida apertada”,
consagrando-o definitivamente. Embora o modo de vida do Barnabé em todas suas
dimensões ainda continue presente, o apelido caducou, assim como, infelizmente,
o uso inteligente, criativo e bem-humorado das marchinhas. Bem provavelmente o
tom nebuloso e exasperado dos debates e discussões dos últimos tempos tenha
contribuído muito para isso. E talvez nosso cotidiano tenha ficado mais próximo
da canção Tão, de Rita Lee! Quem sabe falamos dela futuramente. https://www.youtube.com/watch?v=ZneuCCHmFZU.
... Desde então, os governos federais vêm
destacando o servidor público nas justificativas para a crise do Estado, muitas
vezes criticando o alto custo e a ineficiência destes trabalhadores. Este
fenômeno reforça o imaginário social do servidor público parasita, acomodado,
oportunista, incompetente, faltoso, moroso, que presta atendimento de má
qualidade e ineficiente, como já foi discutido no Capítulo 14. O peso da
estrutura burocrática, a desvalorização e a pressão sobre os servidores
públicos contribuem para acentuar problemas de saúde relacionados ao trabalho
(CHANLAT, 2002;FRANÇA, 1993;TAVARES, 2003).
... A imagem do servidor público foi alvo
de interesse nos estudos realizados por França (1993) e Ferri (2003. Ambos
retratam um conjunto de estereótipos negativos historicamente associados à
imagem do servidor público, em que este é caracterizado como trabalhador que
não trabalha, ineficiente, incompetente, desestimulado, improdutivo, acomodado,
relapso, faltoso, moroso, e que presta mau atendimento. ...
Comentário:
Os governantes transformaram o serviço
público numa farra eleitoreira, abrindo vagas e mais vagas verdadeiro cabide de
empregos aos afilhados dos políticos, sem falar nos concursos públicos,
deixaram a burocracia pública num verdadeiro inchaço.
Para os políticos era confortável aquela
demanda de empregos públicos deixando o país sobrecarregado em despesas
permanentes, mesmo com vencimentos mínimos, mas a quantidade estava superando a
qualidade do serviço público, e com isso, veio a falta de estímulo do servidor
por ganhar pouco, e esse pouco ganho estimulou os servidores a prática
constante da propina, (toma lá, dá cá) para aumentar a sua renda mensal, mas
tinha também os que ganhavam fortunas salariais e mantinha a mesma prática de
receber propinas em troca de um serviço que deveria ser de graça, mas a ambição
de ganhar mais ainda os estimulavam ao toma lá, dá cá. Foi por essas práticas
imorais que os servidores públicos foram sendo taxados de preguiçosos, moroso e
que, prestam mal atendimento ao público, porque o mal exemplo já vem de cima,
dos seus chefes e hierárquicos, e agora se estenderam em todo sistema político
legislativo, executivo e judiciário, a corrupção se generalizou e se tornou um
serviço público normal.
É preciso dar um vencimento digno aos
servidores públicos do Brasil, porque é com uma renda alta que a nação prospera,
o que está havendo é uma discriminação de classe dentro da própria classe, o
presidente Temer chegou a dar aumento de vencimentos para uma classe de
servidores que já ganhavam muito bem, enquanto desprezou a classe menos
favorecida, deixando esses servidores a passarem necessidades ou até fome com
suas famílias por ganharem um salário mínimo ou vencimentos análogos, quando
deveriam dar vencimentos mais altos aos que ganham menos e menos aos que ganham
bastante para não haver discrepância salarial. Quando o Temer deu esse aumento
aos funcionários da elite ninguém da mídia contestou, agora que o presidente
Jair Bolsonaro falou em aumentar o salário de todos os funcionários todo mundo
contestou e protestou, o presidente deveria fazer o mesmo que o Temer fez, só
que, ao contrário, deveria dar um aumento substancioso a todos os servidores que
não foram contemplados pelo Temer, e os que receberam na época do Temer não
deveriam receber nesse momento atual. Os vencimentos dos servidores estão defasados
a muitos anos, menos, os que ganham fortunas nos órgãos públicos e já foram
contemplados com as benesses de aumentos nos vencimentos privilegiados.
Ernani Serra
https://www.youtube.com/watch?v=HhswV1Ks9gE
https://averdadenainternet.blogspot.com/search?q=Emprego+p%C3%BAblico
https://averdadenainternet.blogspot.com/search?q=corrup%C3%A7%C3%A3o
Pensamento: A
política é a única profissão que não é preciso nenhuma preparação. Quanto mais
analfabeto e incompetente melhor.
Ernani Serra
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